ADEUS SOFRÓSINA

mais Paulo Freire, por favor!

  • Maria Deiviane Agostinho dos Santos UFSC
Palavras-chave: Aristóteles, Filosofia Política, Paulo Freire, Pluralidade, Sofrósina

Resumo

Há algum tempo, no intuito de tornar a universidade brasileira mais parecida com o modelo neoliberal presente em países como os Estados Unidos, o ministro da educação afirmou que a universidade não é para todos, contrariando as políticas públicas e movimentos sociais que se fortaleceram durante os 13 anos de crescente bem-estar social anteriores ao internacionalmente reconhecido golpe de estado de 2016. Analisando a nossa forte tradição filosófica e educacional aristotélico-jesuítica e os ataques mais recentes às conquistas sociais, é importante pensar em uma filosofia política cada vez mais brasileira. A filosofia política tinha relação direta com a formação humana na pólis grega e continua tendo esse papel para nós. A metodologia empregada neste trabalho parte de uma análise histórico-crítica dos conceitos de sofrósina e de uma visão da escola pública, o que é e qual seria seu papel, i.e., ensinar ao povo, ao público. Por isso, nesse artigo, vamos abordar duas vertentes pedagógicas muito conhecidas: de um lado temos Aristóteles com a ideia de bom e belo, no sentido de sofrósina (Σωφροσύνη), i.e., da moderação e da adequação e, do outro lado, temos Paulo Freire com a ideia de que não existe uma neutralidade no processo de formação pedagógica, pois a pluralidade do educando brasileiro não pede adequação, mas ocupa um espaço de inquietação. Uma educação problematizadora como a de Paulo Freire não serve apenas aos educandos mais adequados, mas serve a todos aqueles que, visíveis ou invisíveis ao Estado, são de fato e de direito cidadãos brasileiros. Nesse sentido, nunca é demais pronunciar um necessário e tardio adeus ao conceito de sofrósina e pedir mais Paulo Freire, por favor!

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Referências

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Publicado
27/03/2023