O maior desafio que nós, professores de Filosofia, enfrentamentos na atualidade é a não obrigatoriedade do ensino de Filosofia, como determinava a LDB a partir da lei 11.684/2008, que incluiu a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio. Nessa circunstância, é crucial reivindicarmos o lugar da obrigatoriedade da Filosofia no currículo escolar.

A especificidade metodológica do ensino de Filosofia possibilita um diálogo transversal com os demais componentes curriculares na medida em que o ensino filosófico, no contexto escolar, demanda da ação pedagógica a discussão dos conceitos e a reflexão sobre as formas de conhecer a realidade, de conhecer e reconhecer a cultura e a produção do conhecimento. Mesmo reconhecida como uma das mais importantes formas de pensar que atravessa a humanidade desde a antiguidade, não compreendemos a Filosofia como superior aos demais saberes. Contudo, frisamos que sua singularidade deve, obrigatoriamente, fazer parte do caminho a ser percorrido pelos educandos em seu processo básico de formação.

Com esta edição da revista Docentes, que também conta com preciosas entrevistas por nós produzidas, convidamos todos(as) a conhecerem a experiência do pensamento de muitos dos participantes do II Encontro Cearense de Professores de Filosofia, com suas reflexões, diagnósticos e práticas pedagógicas. Espera-se que o amor pela atividade filosófica, aqui presente, estimule a reação necessária a estes tempos desafiadores para o ensino de Filosofia. Não nos deixemos seduzir pela promessa de flexibilidade e liberdade que aparecem nos documentos educacionais na atualidade que escamoteia a verdadeira importância do lugar da Filosofia e da escola: a busca pelo conhecer e “ser mais” [ “Ser mais” é um termo utilizado por Paulo Freire na obra A pedagogia da autonomia (2010) para definir a potência da amorosidade como vocação ontológica do ser humano, ou seja, significa para o professor e aluno, a necessidade de potencializar a amorosidade enquanto prática educacional. A constituição do ser-mais se dá pela vontade dotada de potência que os educandos e os educadores devem procurar em atitudes, para fazer emergir uma Educação digna, amorosa e consciente. Só assim a autonomia é concretizada. “Autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si é processo, é vir a ser. Não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas da liberdade.” (FREIRE, 2010, p. 107)

Publicado: 27/03/2023

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